Diga sim, mãe!
“Um ano perdido!”
Ouvir isso traz de imediato, argumentação contrária. “É óbvio que não!”
E o desabafo da mãe angustiada soa como contravenção à Lei Divina. Elencam-se motivos para o exercício de gratidão ao ano vivido, buscam-se fatos como provas vivas das bençãos recebidas em meio à pandemia, e, ao final, fecha-se com a constatação óbvia de que estar vivo já faz o ano não ter sido em vão.
E tudo isso é indiscutivelmente verdadeiro, mas não é o objeto que ocupa meu pensamento agora.
Vejo você, mãe.
Você que conhece a necessidade que seu filho tinha da terapia que não foi possível continuar, que vibrava com cada conquista relatada pela professora na escola, e se viu com ele em casa, tentando sobreviver ao exercício diário de equilibrar-se entre a lucidez e o caos. Você que viu avanços sendo perdidos pouco a pouco, num eterno recomeçar. E te vejo sem julgar, porque não ocupo o seu lugar. Ele é seu. Apenas você é capaz de sentir os efeitos do que viveu. Te vejo com amor, e te convido a um exercício.
Encontre um espelho. Sim, um espelho. E nele, encontre o único olhar que conhece o que se passa na sua alma. Olhe firme. Não desvie o olhar. Sinta as sensações que esse encontro traz para o corpo. Permita-se sentir. Se você vê uma menina, pegue-a no colo, dê o acalento que ela precisa. Diga a ela “eu vejo você”! Ela vive, frágil, dentro da guerreira que a vinda do seu filho criou. Devagar, olhe dentro dos seus olhos e diga SIM a essa mãe, a essa mulher que luta, que erra, que insiste, que desiste, que recomeça, que se reinventa. E está tudo certo. E seu sentir é legítimo. Acolha. Para amar, é necessário beber da fonte do autoamor. Afinal, oferecemos daquilo que estamos repletos. Abarrote-se de amor!
Quanto ao tempo, abrace o que está chegando a cada novo minuto. O que foi, já não está ao alcance. Então está tudo certo. Do jeito que foi.
Feliz momento novo. Feliz dia novo. Feliz de novo.