27 de abril de 2023

Alguns tópicos sobre autismo que você precisa saber

 

Tanto o estresse quanto a ansiedade envolvem sintomas  idênticos, incluindo: problemas digestivos e para dormir, dificuldade de concentração, tensão muscular, irritabilidade ou raiva.

O termo autismo apareceu por volta de 1911, embora os casos de autismo sempre tenham existido. Mesmo no início do século, pouco se sabia sobre o transtorno e as pesquisas clínicas eram raras até o final do século XX. Hoje, ainda há descobertas sendo realizadas sobre essa condição permanente, com o principal objetivo de ajudar os indivíduos no espectro e suas famílias, bem como toda a sociedade.

A prevalência de autismo atualizada pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e divulgada no início de 2023 estima que uma em 36 crianças com 8 anos (aproximadamente 4% dos meninos e 1% das meninas) tenha autismo. Essas estimativas são maiores do que as anteriores da Rede ADDM durante 2000-2018.  Os dados divulgados são referentes aos estudos realizados os Estados Unidos, ainda não temos a atualização da prevalência no Brasil.

A incidência maior é em meninos, quase cinco vezes mais diagnósticos em meninos do que em meninas. Há ainda uma situação intrigante no diagnóstico das meninas, é comum que elas sejam subdiagnosticadas, são diagnosticadas erroneamente com outras condições, ou ainda têm menos probabilidade de serem diagnosticadas, especialmente se for um caso de autismo leve. Simon Baron-Cohen e Sally Wheelwrigh, têm um estudo e nele relataram que, “as mulheres têm mais probabilidade de desfrutar de amizades íntimas e empáticas de apoio, de gostar e se interessar pelas pessoas; para desfrutar da interação com os outros para seu próprio bem; e considerar as amizades importantes”. São características femininas que podem mascarar o autismo.

O caso é que o autismo não escolhe nacionalidade, credos, raças ou sexo, não diferencia ou afeta apenas um grupo.

O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é uma deficiência do desenvolvimento, apresenta desafios antes dos três anos de idade, embora, atualmente seja possível diagnosticar com 1 ano e 8 meses, por falta de instrução, informação, apoio, muitas famílias deixam passar. O diagnóstico cedo,  favorece a intervenção precoce, tratamento e suporte são importantes e favorecem resultados futuros.

O diagnóstico é clínico, não há exame de sangue  de detecção médica para o autismo. Também é importante dizer que o autismo não tem cura conhecida. Autismo é para sempre!

Os efeitos positivos das intervenções precoces baseadas em ABA consideram as necessidades de cada indivíduo e os estilos de aprendizagem de cada criança.

Indivíduos com autismo devem reconhecer seus pontos fortes e principais desafios. Essa autorrepresentação permite que eles sejam capazes de garantir seus direitos, entendam quais acomodações os atendem melhor na escola, na família e na sociedade.

As causas do autismo ainda são desconhecidas, mas os cientistas apontam que ele é genético. De acordo com Gupta e State (2006)[1]:

O autismo é um transtorno fortemente genético, com uma
herdabilidade estimada de mais de 90%. Uma combinação
de heterogeneidade fenotípica e o provável envolvimento
de múltiplos loci que interagem entre si dificultam os
esforços de descobertas de genes.

Apesar de ter sido levantada a hipótese, em algum momento na história do autismo, que os pais, ou melhor, o comportamento dos pais poderia ser o causador do autismo, essa informação não procede.

O autismo não piora com a idade, indivíduos no espectro podem aprender e desenvolver novas habilidades se tiverem  suporte certo. As dificuldades na comunicação podem ser desafiadoras para os autistas, seja na linguagem falada ou na comunicação social.

Em termos de informação equivocada já tivemos de tudo, inclusive a informação de que ser não verbal aos quatro anos

significaria que a criança jamais falaria. As pesquisas mostram que  a maioria aprenderá a usar as palavras e quase metade aprenderá a falar fluentemente com estimulação adequada. Tager-Flusberg e Kasari (2013)[2] apontam que,

 

Atualmente, estima-se que cerca de 30% das crianças
com transtorno do espectro do autismo permaneçam
minimamente verbais, mesmo após anos de
intervenções e uma série de oportunidades
educacionais. Muito pouco se sabe sobre os
indivíduos neste extremo do espectro do autismo, em
parte porque esta é uma população altamente
variável, sem um conjunto único de características
definidoras ou padrões de habilidades ou déficits, e
em parte porque é extremamente desafiador fornecer
informações confiáveis ​​ou avaliações válidas de seu
funcionamento desenvolvimental.

A interação social também é uma preocupação para crianças e adultos no espectro autista, eles tentam desenvolver um comportamento espontâneo, empático e socialmente relevante, nem sempre é possível, mas é importante lembrar que eles estão tentando e que merecem apoio.

As comorbidades são outro assunto importante quando estamos tratando de autismo. O que isso quer dizer? Nem sempre o autismo vem sozinho. É possível que condições médicas como asma, epilepsia, TDAH, distúrbios digestivos, alimentares, do sono, disfunção da integração sensorial, deficiências cognitivas apresentem-se concomitantes ao autismo.

As pesquisas também mostram que 1/3 dessa população desenvolve distúrbios convulsivos e que a densidade óssea de indivíduos com autismo é menor do que a de seus pares. Distúrbios genéticos, metabólicos ou neurológicos podem atingir 10% dessa população. E é por esse motivo que nós insistimos muito em dizer que cada indivíduo autista é único. Eles têm necessidades, habilidades e merecem tratamentos individualizados.

Ainda falando em estatísticas, é comum ouvir relatos de afogamento, uma vez que crianças com autismo têm 160 vezes mais chances de se afogar do que crianças neurotípicas. A natação, portanto, deve ser um dos esportes valorizados pelos cuidadores. Além desses interesses, autistas podem ser muito criativos e mostrar talento para música, dança, teatro, arte, canto. Há ainda alguns indivíduos no espectro que são hiperléxicos, ou seja, apresentam muito cedo a capacidade de ler.

Os tratamentos para o autismo podem ser variados e multiprofissionais, a ABA fundamenta o tratamento com maiores comprovações científicas de eficácia para autismo por contemplarem procedimentos testados e revisados. Na ABA os dados são usados como base para tomada de decisões  sobre o tratamento do aprendiz.

Como transtorno do desenvolvimento, o autismo não tem cura. Mas, o diagnóstico precoce pode trazer um bom prognóstico quando o tratamento é iniciado logo cedo.

 

Sandra Paro

 

 

Referências:

 

Data & Statistics on Autism Spectrum Disorder.

Disponível em : https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html Acesso em 31mar 2023.

 

GUPTA, R. A.  e STATE, M. W. Autism: Genétics. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(Supl I):S29-38.

TAGER- FLUSBERG e KASARI. 2013 dez;6(6):468-78. doi: 10.1002/aur.1329. Epub 2013 7 de outubro.

Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24124067/ Acesso em: 04 abr 2023.

 

[1] Abha R Gupta e Matthew W State – Autism: genetics. Rev Bras Psiquiatr. 2006;28(Supl I):S29-38

 

[2] 2013 dez;6(6):468-78. doi: 10.1002/aur.1329. Epub 2013 7 de outubro.

Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24124067/ Acesso em: 04 abr 2023.

 

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Sobre o(a) autor(a)
Sandra Paro

Sandra Paro

Sandra Paro é mãe, professora, estudiosa, idealizadora da ABA+, analista do comportamento, consultora de recursos terapêuticos, corajosa, disciplinada e ensaísta para o ABA+
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