7 de março de 2020

Travessia

Por Sandra Paro

É menina! A primeira exclamação dos pais quando descobrem o sexo da criança vem cheia de alegria e de história também! A história de mulheres que conquistaram o mundo parece tão mais notável justamente porque elas desbravaram e desafiaram mais do que a sociedade esperava. Afinal, em 1857, morrer queimada por reivindicar jornada de trabalho reduzida e licença maternidade não parece tanto com a delicadeza que atribuem às mulheres convencionalmente.

A sociedade por muito tempo e de várias maneiras dividiu-se entre homens e mulheres atribuindo a cada qual o que lhe parecesse adequado. Em pleno 2020 experimentamos uma libertadora atitude em que mulheres e homens podem desempenhar papéis diversos em nosso meio com, não ainda igual importância, mas com uma merecida evolução a fim do equilíbrio do universo.

Apesar disso as estatísticas não são animadoras, ainda existe muita violência e preconceito contra a atitude feminina, a força natural que se impõe, que vem de dentro e que torna o “sexo frágil” uma vítima.

No mundo do autismo nós experimentamos uma situação no mínimo interessante: as estatísticas mostram que o TEA (Transtorno do Espectro Autista) em meninos é mais comum. Numa proporção de 5 meninos para cada menina. Testes mostraram que as meninas pontuam mais habilidades verbais e os meninos são mais aptos às habilidades visuespaciais e matemáticas. Alguns pesquisadores acreditam ainda que o autismo estaria relacionado à expressão exagerada dos aspectos masculinos no cérebro em desenvolvimento.

Mas o que há de interessante nessas pesquisas, ou nesses dados? O fato é que existem “meninas” autistas que por serem mais aptas às habilidades verbais vivem com autismo sem serem diagnosticadas, ou são diagnosticadas erroneamente. São autistas, mas muitas vezes não apresentam critérios suficientes para receber o diagnóstico, são privadas do tratamento especializado e adequado por terem maior talento para a “imitação social”, apresentarem habilidades comunicativas. Qual a vantagem de não se ter o diagnóstico? Nenhuma.

Uma criança (menina ou menino) sem diagnóstico ou com diagnóstico tardio perde as oportunidades de aprendizagem, apoio especializado e inclusão social. São tratadas como “estranhas”, correm mais risco de serem enganadas e sofrerem violência.
Independente do sexo todos precisam de tratamento. Ser diferente é uma característica de atípicos e de neurotípicos também. A sociedade precisa de todos! E mais…pessoas autistas têm o direito de reconhecer-se como tal, entender suas limitações e lutar pelos seus direitos.

A alegria de descobrir o sexo permanece, é menina sim, isso é maravilhoso e a história continua.

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Sobre o(a) autor(a)
Sandra Paro

Sandra Paro

Sandra Paro é mãe, professora, estudiosa, idealizadora da ABA+, analista do comportamento, consultora de recursos terapêuticos, corajosa, disciplinada e ensaísta para o ABA+
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