1 de fevereiro de 2025

Como Pensam as Pessoas com TEA: Uma Visão Profunda dos Processos Cognitivos no Autismo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é amplamente conhecido por suas características únicas de comportamento, interação social e comunicação. No entanto, um dos aspectos mais intrigantes é como as pessoas com TEA processam informações, formam ideias e interpretam o mundo ao seu redor. Inspirado no artigo de Temple Grandin, “Como as Pessoas com Autismo Pensam,” exploramos quatro formas principais de pensamento no TEA: Concretude, Pensamento Sensorial, Atenção e Pensamento Emocional.

Esses tipos de pensamento não são universais, mas oferecem uma base para entender melhor a experiência cognitiva de pessoas no espectro autista. 

  1. Concretude: O Pensamento Literal

Uma das características mais marcantes do pensamento de pessoas com TEA é sua literalidade. O pensamento concreto se refere à dificuldade em interpretar significados abstratos ou simbólicos. Por exemplo, um tubo de papelão é apenas um tubo de papelão, não um telescópio imaginário. Essa literalidade também afeta a forma como as pessoas interpretam linguagem figurativa, como metáforas ou ditados populares.

Outro aspecto é a dificuldade em generalizar experiências. Uma pessoa com TEA pode não relacionar a expressão de raiva de alguém em um momento específico com outra situação similar, pois essas conexões abstratas são menos intuitivas para quem pensa concretamente.

  1. Pensamento Sensorial: O Mundo Percebido pelos Sentidos

Enquanto muitas pessoas processam informações predominantemente por meio de conceitos de linguagem, indivíduos com TEA frequentemente categorizam o mundo com base em suas qualidades sensoriais: formas, cores, texturas, sons e até cheiros. Isso cria uma relação profundamente única com o ambiente.

Por exemplo, reconhecer um amigo pode depender de características sensoriais específicas, como o estilo de cabelo ou a roupa. Alterações nesses aspectos podem causar confusão ou dificuldade em identificá-lo.

Além disso, pensar em imagens é comum. Temple Grandin descreveu sua mente como semelhante a um banco de dados visual, onde cada conceito é representado por uma imagem específica. No entanto, outras modalidades sensoriais, como o olfato ou o tato, também podem dominar a forma como algumas pessoas com TEA processam informações.

  1. Atenção: O Foco em Detalhes e Desafios de Planejamento

Atenção é um componente essencial para entender o pensamento no TEA. Pessoas com autismo frequentemente têm dificuldade em organizar ações, planejar metas e monitorar seu progresso. Isso está relacionado a um foco intenso em detalhes e uma tendência a “ficar preso” em um modo de pensar ou resolver problemas.

A flexibilidade cognitiva, ou a capacidade de mudar de abordagem quando necessário, pode ser desafiadora. Além disso, o processo de alternar entre o mundo interno e externo exige um esforço considerável, o que pode resultar em dificuldades para manter a atenção em interações sociais ou tarefas específicas.

  1. Pensamento Emocional: Fatos Acima de Sentimentos

O pensamento emocional é talvez o mais desafiador para pessoas com TEA, pois envolve interpretar estados emocionais próprios e alheios. Temple Grandin compara esse processo a um “computador emocional,” onde sentimentos são deduzidos com base em comportamentos observados, como uma análise lógica em vez de uma percepção intuitiva.

Essa abordagem mais concreta e factual pode limitar a capacidade de compreender nuances emocionais, resultando em interações que parecem “frias” ou desprovidas de empatia para quem está de fora. No entanto, isso não significa ausência de sentimentos, mas sim uma forma diferente de processá-los.

Implicações para a Compreensão e Intervenção

Compreender esses quatro tipos de pensamento ajuda a desmistificar muitos comportamentos associados ao TEA. Não é apenas uma questão de “diferenças,” mas de adaptação às formas únicas de percepção e cognição. Por exemplo:

  • A literalidade pode ser abordada com instruções claras e diretas.
  • O pensamento sensorial pode ser respeitado ao criar ambientes previsíveis e confortáveis.
  • A atenção pode ser melhorada com estratégias que ajudem no planejamento e organização.
  • O pensamento emocional pode ser desenvolvido com ferramentas visuais ou modelos que ajudem a “traduzir” emoções.

Conclusão

A riqueza do pensamento no TEA é tão variada quanto as pessoas que vivem com essa condição. Embora existam características comuns, cada indivíduo apresenta uma combinação única dessas formas de pensamento. Reconhecer e respeitar essas diferenças não apenas promove uma maior compreensão, mas também possibilita criar intervenções mais eficazes e inclusivas.

É fundamental lembrar que cada pessoa com autismo é única. Não há duas experiências iguais, e generalizações não captam a complexidade de cada ser humano no espectro. Ao aprendermos sobre as características típicas do pensamento no TEA, devemos sempre estar atentos às particularidades de cada indivíduo, valorizando suas singularidades e promovendo um ambiente de acolhimento e respeito.

Referências

American Psychiatric Association (APA). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).

Autism Speaks. https://www.autismspeaks.org

Blog da Fundação A. C. Camargo, “Como Pensam as Pessoas com TEA – Parte 1 e 2.”

Grandin, T. (1995). Thinking in Pictures: My Life with Autism.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Classificação Internacional de Doenças (CID-11).

Reed, G. M., et al. (2019). Innovations and changes in the ICD-11 classification of mental, behavioural, and neurodevelopmental disorders. World Psychiatry.

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Sobre o(a) autor(a)
Sandra Paro

Sandra Paro

Sandra Paro é mãe, professora, estudiosa, idealizadora da ABA+, analista do comportamento, consultora de recursos terapêuticos, corajosa, disciplinada e ensaísta para o ABA+
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