9 de maio de 2020

Ser Mãe é ser Sempre

Por Mariza Domingues

O dia das mães se aproxima e dessa vez, será excepcionalmente intenso. Assim como o mundo está intenso, os sentimentos estão intensos, as emoções, as relações, o trabalho, o medo, a esperança, a desilusão e a perseverança, as crianças, as pessoas, as mães! Tudo intenso! Muito intenso!

Talvez, será excepcional, pois as imensas filas, os congestionamentos de pessoas, as estratégias de vendas, a indecisão no agrado, as lojas e shoppings lotados sejam forçosamente trocados por outros atropelos. Os atropelos da saudade pela distância física, o atropelo emocional pelo abandono afetivo, o atropelo do descaso, da intolerância à dificuldade da maternidade, o atropelo da falta do abraço caloroso, o atropelo pelo zelo excessivo, o atropelo pela anulação em razão do outro, o atropelo da falta de atenção, o atropelo pela falta de tempo de desejadamente fazer uma tarefa, trocar uma fralda, dar a mamadeira, ver aprender todo dia, cotidianamente ver, estar. Muitos atropelos estão à tona. Inúmeros! Cada um com sua história, seu olhar, sua justificativa, suas motivações, razões e dores e alegrias.

Muitas mães, em meio à guerra, festejam a oportunidade de, enfim, estar com seus filhos, acordar com eles, almoçar com eles, e essas pequenas coisas são imensamente reconfortantes, pois é oportunidade única, exclusiva de um tempo de horrores que acarinha muitas mulheres com a oportunidade de ser mãe na intensidade com que elas sempre sonharam e não podiam.

Outras, estraçalhadas pelo cansaço da rotina exaustiva e maldosa da sociedade da produção, que anula a existência de uma nova realidade e clama às mães ao produzir ignorando a presença de uma mãe que, hoje atua como mãe, respira mãe, acorda, mãe, trabalha mãe, cozinha mãe, lava mãe, dorme mãe e trabalha para que o mundo caminhe, para que o mundo produza e ela, na sua angústia de ser mãe, se infiltra no mundo do impossível para encontrar a fórmula mágica de fazer tudo isso com a ousadia de, no fim da jornada, madrugada à dentro ainda ser capaz de olhar a criatura que dorme e pensar que ainda assim, é aquilo que ela quer; a escolha – se pudesse refazê-la – seria a mesma.

Mães que hoje vivem o caos da fome, do desemprego, da redução do salário, da incerteza e da angústia de não saber o que será e de buscar respostas e não encontrar. De não ter para onde ir, para quem chorar ou de não poder chorar, pois é na solidão com seus filhos que há de manter a força para reagir e é deles que vêm a força da reação que a mantém de pé para seguir, para tatear, para levantar e olhar e perseverar.

Mães que com seus filhos com desenvolvimento atípico que viveram toda sua vida com o medo de abandoná-los e que eles na sua falta de autonomia, ficassem desamparados, se equiparam agora a todas as mães que se sentem ameaçadas pela mesmo drama: deixar seus filhos. Nesse drama, que agora é de todos, quiçá essas mães se sintam mais acolhidas em sua insistente luta pela autonomia de seus filhos e que o mundo valide esse drama como “não drama” e sim missão rigorosa, implacável de mãe responsável e amorosa.

Mães que, agora, muito mais filhas, se descobrem acarinhadas pelos seus filhos com o mesmo cuidado e zelo com que ofereceram a eles e que, agora, lá na frente, na estrada da vida estão experimentando o gozo de saber que fizeram a coisa certa, que há no mundo criaturas de bem que elas ofertaram ao mundo e que captam as ofertas disso. Pais que acolheram e são agora, os acolhidos. Mães que não são incapazes, são simplesmente mães amadas e cuidadas e orgulhosas. Mães que colhem.

Mães que se descobrem como incapazes de resolver todos os problemas do mundo, abandonam a capa de heroína e se permitem ter medo, chorar, angustiar-se, recolher-se e gritar por socorro sem achar que isso macula sua maternidade marcada pelo amor e dedicação. E que, o mundo, com todo respeito que as mães merecem, precisa se curvar e respeitar essa fragilidade de gente, mesmo sabendo que as mães estão acima dessa hierarquia em que “as gentes” se submetem e que logo vão submergir de um mundo onde só as mães vão e tiram forças para voltar à cena e fazer o que sempre fazem: amam.
São tantas mães! Mas, são todas mães!

E, não há nenhuma querendo outra coisa, senão ver seus filhos florescerem e se fortalecerem cada um dentro de sua história, dentro de seu contexto, de suas dores, de suas vivências, de suas lutas, de suas vitórias, de sua essência.

O dia das mães é sempre especial, há de ser especial algo destinado a outro especial, há de ser único o que é daquele que é único. Há de ser intenso o que se trata daquele que é intenso. Mãe é criatura intensa. No tempo do intenso, só se descobre que mãe é de todo tempo, mãe é do dia fácil, do difícil, do dia da bronca, do dia do abraço, do tempo do grito, do tempo do aplauso, do tempo de desespero e do dia da bonança, do tempo da prosperidade, do tempo da ruína, do tempo da limitação e do tempo da plenitude, do tempo da graça, do tempo do desalinho, do tempo do calar-se, do tempo do exaltar-se, do tempo de hoje, de ontem, de amanhã, de sempre.
Assim, mãe é sempre!

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Sobre o(a) autor(a)
Mariza Domingues

Mariza Domingues

Mariza Domingues é mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!
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