por Sandra Paro*
As mães que nos leem podem identificar falas corriqueiras no que aspiramos debater, dentre elas, falas sobre o desejo de ser mãe e deixar-se transformar pela maternidade. Sobre a vontade de ensinar e aprender com os filhotes, acompanhar cada detalhe do desenvolvimento da sua criança, experimentar os medos, mudar as rotinas, desafiar o desconhecido. Tudo isso já é muita mudança na vida de uma pessoa, um filho muda tudo, principalmente se ele vem no espectro autista. Leiam agora o relato de uma mãe.
“A minha maternidade aconteceu aos 42 anos, e devo dizer que foi a melhor sensação que experimentei, eu estava preparada para ser mãe, para doar e quando minha filha nasceu percebi que doação era um assunto sério! Como mãe, achava minha filha normal, um tanto preguiçosa: não dava “tchau” aos 5 meses, não mandava beijinhos como as outras crianças, mas era capaz de sorrir, de imitar e até, arrisco dizer: falar. Aos 10 meses dizia: “Papa” e “Mama” e depois… “dog” e “ball”??
No berçário, na sua primeira apresentação para as mães, chorou do início ao fim, queria somente ficar nos braços do pai, enquanto outras crianças tentavam cantar e dançar. Nesse dia o alarme da diferença soou. Passamos a observar melhor determinados comportamentos e: ela falava menos, esteriotipava e fugia de ambientes festivos em que ela era a atenção, aniversários, por exemplo. Ouvimos profissionais e, claro, se ela não fala com 2 anos: “levem à fonoaudióloga”. Feito!
O autismo era uma sombra que estava nos rondando, o silêncio da minha filha me incomodava, até que a fono encaminhou para um neuropediatra, e aí a sombra havia entrado não só na nossa casa, estava na nossa cama, tirando o nosso sono, e por fim, nas nossas vidas.
É um Transtorno (TEA – Transtorno do Espectro Autista), CID 10 – F84.0 – dos Transtornos Globais do desenvolvimento – Autismo Infantil, por enquanto, a partir de 2022: CID 11, outros números, outras classificações, e eu??? Se é um transtorno? Sim, ficamos transtornados, todos. O pai chorou por três dias. Luto. É o que dizem, passamos por um período de luto. Era a escuridão. Tateando no escuro, reagi e busquei ajuda, conversei, falei, telefonei, me informei e iniciamos o tratamento. Ahhhh sim, existe um tratamento!
O tratamento para o autismo infantil é multiprofissional: fonoaudiólogo, psicólogos comportamentais, terapeuta ocupacional. Assustada com tanta gente competente, e eu nem sabia o que era ABA (Análise do Comportamento Aplicada): sua filha vai fazer ABA! “Googuei!” Num vídeo expositivo do “youtube” vi uma psicóloga dando instruções para uma menina de uns 7 anos e quando ela cumpria o comando, ganhava um biscoito. Horrorrr!
Ninguém escolhe ser mãe de criança autista, mas eu estava nesse barco e tinha que tomar o leme e buscar um rumo. Vamos fazer ABA!
Leituras, estudos, reuniões e a aplicação da terapia, o luto virou luta! Uma luta travada no dia-a-dia e com resultados visíveis. Durante um ano, a minha criança fez terapia sentada no meu colo. Erámos: eu, ela e a psicóloga, ou, no mesmo formato com a fonoaudióloga. Com um ano de terapia ABA ela já passou a ficar sentada com a AT (Psicóloga Assistente Terapêutica).”
É nesse ponto do texto que devemos retomar a terceira pessoa e deixar a breve experiência narrada no relato acima para que possamos esclarecer o que é ABA.
A história do autismo ainda está sendo contada, bem como dos tratamentos, que evoluíram muito e vão desde isolamento da criança até aplicação de terapias aversivas, como emprego de choque elétrico, para induzir respostas e comportamentos esperados, foi um longo caminho até chegarmos a um tratamento comportamental.
No início, através de punições, com ambiente organizado e com controle de estímulos, o reforço positivo era indicado pelo uso de alimentos. A partir desse ponto diversos tratamentos comportamentais foram desenvolvidos, mas os mais empregados, por apresentarem resultados visíveis eram (e são) ABA (do inglês, Applied Behavioral Analysis) e TEACH (que no Brasil é muito utilizado em APAES por adequar-se às necessidades desse tipo de Instituição).
A ABA é geralmente aplicada na casa do paciente por uma assistente terapêutica (psicóloga em formação ou já graduada) que é supervisionada por uma psicóloga responsável pelo caso, ambas devem ter uma formação continuada em Análise do Comportamento Aplicada, já que um dos principais problemas enfrentados no autismo é o comportamento, que necessita ser modelado para a vida em sociedade. É uma terapia estruturada que ensina também habilidades cognitivas e de linguagem, desse modo atende às principais necessidades desses indivíduos.
Essa abordagem mudou nossa perspectiva sobre o autismo, é possível fazer a criança aprender, modelar o seu comportamento e ensinar autonomia a ela. A cada fase do desenvolvimento somos novamente desafiados e SEMPRE buscamos novas maneiras para avançar no desenvolvimento da nossa filha.
Hoje, o ABA+ é uma solução criada por nós, que nos orgulha muito e que auxilia os profissionais no atendimento. Sempre haverá sol!
*Sandra Paro é filha, mãe, professora, estudiosa, pesquisadora, idealizadora do ABA+, incentivadora de pessoas, corajosa, disciplinada e ensaísta para o ABA+ É muita inteligência afetiva!