8 de março de 2020

Em desconstrução

Por Cris Alves

O cantor Erasmo Carlos, em 1981, fez uma canção em reconhecimento à importância da mulher para o bom andamento da família.  Vamos aos versos.  Ele diz que a mulher é um sexo frágil, mas que mentira absurda, eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com ela”. E era isso mesmo. Aforça feminina estava em se submeter às vontades e necessidades dos homens da casa, afinal, eram “quatro homens dependentes e carentes da força da mulher”. O autor segue lembrando que além de forte, era de uma inteligência “sem preçouma vez que satisfazia o ego se fingindo submissa.

É certo e, sem desconsiderar a nobre intenção do autor, que esses versos mais que um tributo, mostram o que ainda era permitido e esperado, exercer integral e exclusivamente a função de dona de casa, mãe e esposa. O tempo passou, a canção anda meio esquecida e já não representa grande parte das mulheres brasileiras.  O modelo de educação para o lar tornou-se menos comum, e elas agora dividem a docência do ensino básico com os homens, e já participam expressivamente da docência do ensino superior. A possibilidade de se deparar, e não se espantar, com engenheiras, delegadas, motoristas e outras aumentou consideravelmente.

Outra evidência de que os tempos mudaram é a quantidade de atletas confirmadas para os jogos olímpicos de Tóquio de 2020, até agora dos 152 classificados, 80 são mulheres em modalidades diversas. Isso em um país que já proibiu, por lei, que elas praticassem lutas de qualquer tipo, jogassem futebol ou qualquer outra atividade incompatível com a natureza feminina. O queatletas como Maya Gabeira, Rafaela Silva e Marta contrariam magistralmente.

É nítido o enorme progresso das últimas décadas, mas não atingimos a situação ideal. A atuação na política e a participação no mercado de trabalho, ainda esbarram em clichês e preconceitos. A profissional-mãe continua recebendo olhares de desconfiança. Os casos de assédio são frequentes. Isso sem falar nos números absurdos de feminicídio.  O que só mostra que hámuito o que fazer, e para isso, busquemos inspiração nos versos da roqueira Pitty. Vamos lá, vire “a mesa, assume o jogo, façaquestão de se cuidar, você não é serva, nem objeto e não quer ser o outro (quer ser)  também.

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Sobre o(a) autor(a)
Cris Alves

Cris Alves

Cris Alves é filha, mãe, professora encantadora de pequenos escritores, indignada, empenhada, multifacetada e articulista para o ABA+ É muita inteligência afetiva!
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