Por Cris Alves
No início do ano letivo de 2018, na Suécia, Greta Thunberg, 16 anos, preocupada com os problemas climáticos e a omissão das autoridades, passou a se manifestar, sempre às sextas-feiras, em frente ao Parlamento em Estocolmo. Hoje pouco mais de um ano depois, a estudante conta com milhares de seguidores no Instagram e no Twitter, foi ouvida não só pelos suecos, mas por vários líderes mundiais, chegou a fazer cara feia para um e a provocar o descontrole de outro.
Por tudo isso, ela acaba de ser escolhida a personalidade do ano pela revista Time. O que merece nossa reflexão. Afinal temos uma ativista de pouca idade, grande poder de mobilização e diagnosticada com Asperger, uma das nuances do transtorno do espectro autista (TEA).
Ter uma menina de 16 anos, atuando de modo tão incisivo abala o conceito de descrença e despreparo dos jovens e atiça neles o velho desejo de mudar o mundo. Mostra também que qualquer gesto é válido. Pode ser um cartaz feito à mão em frente a uma instituição do governo como Greta fez, mas nem precisa, hoje com as redes sociais, a melhor ferramenta de mobilização já criada, uma boa ideia é rapidamente difundida. Sabemos que as ideias ruins também se espalham, mas isso é assunto para outro momento.
Apesar da repercussão e dos bons resultados, o ativismo juvenil de Greta tem sido criticado, há os que duvidam da autenticidade das intenções, há os que questionam o tom agressivo e os que acham que ela deveria tratar de outros problemas ambientais, não só o climático. É certo que a fala dela precisa amadurecer, mas o modo como faz é próprio de uma adolescente. Ela deve sim cobrar, alardear, incomodar, agora as soluções devem partir dos governantes, dos especialistas e dos empresários, melhor dizendo, dos adultos. Eles devem também administrar adequadamente as insatisfações e preocupações de todos, independente da idade.
Tratemos agora da condição neurológica de Greta, que estando no TEA, apresenta dificuldade de interação e comunicação, mas sem comprometimento do cognitivo. Condição que a jovem ativista encara com naturalidade e é assim que dever ser. Uma pessoa neurodiversa pode atuar em qualquer área desde que tenha o acompanhamento devido para ajustar traços do comportamento. Só isso. Para quem ainda tem dúvidas e preconceitos, a própria Greta esclarece, “(o transtorno) me faz ser diferente, e isso é até uma dádiva. Posso enxergar além do óbvio e meu diagnóstico definitivamente me ajudou a manter o foco”.
1 comentário
Parabéns pelo texto.Ativistas ambientais incomodam muito, pois “cutucam” um vespeiro já que defender o meio ambiente envolve questões sociais, econômicas e políticas.