20 de junho de 2022

Menino mimado ou menino cuidado?

MENINO MIMADO OU MENINO CUIDADO?

Estamos em meio à tanta distorção de valores, ideias e comportamentos que tem sido bem evidente uma confusão entre mimo e zelo na educação e cuidados com as crianças. Uma sociedade que carrega o ranço cultural e comportamental de que aprendizagem tem ligação direta com privação, punição, sofrimento e até violência teria mesmo dificuldade de compreender zelo, afeto, carinho, dedicação e até responsabilidade como o que é evidentemente certo e esperado para uma criança se desenvolver bem.

Vivemos numa sociedade que ainda não incorporou o hábito de respeitar criança como ser humano completo, como cidadão e como criatura que precisa de zelo, cuidado e atenção para se desenvolver e que tem direitos como assim como adultos. Ignoramos tanto isso que a frase “Ah! É só uma criança!” ecoa a cada momento que uma criança é desrespeitada e que se entende que por ser criança está tudo bem. Não! Não está! O desrespeito não é menor porque é com uma criança. Criança pode e deve receber pedido de desculpas se for vítima de alguma indelicadeza ou erro; criança não tem que ser vítima de brincadeiras, piadas e deboches com os quais adultos tiranos e desequilibrados se divertem enquanto essa criança não se sente à vontade, se sente ofendida ou exposta. Criança não pode deixar de ser ouvida só porque é criança. Ela existe! Ela percebe, ele tem condições mentais, intelectuais, existenciais! Por que não conseguimos ainda incorporar isso na nossa percepção? Criança não pode ser colocada em condições que lhe causam medo, vergonha, confusão mental, insegurança justificadas por ser simples brincadeira. Não é! Não faça brincadeira de mau gosto! Não exponha! Não violente! Não ridicularize! Não menospreze!

E aí, diante de tantos “erros” no trato com as crianças (e acho que minha lista foi pequena pra não valorizar comportamentos errados), ainda são mira de olhares e buchichos, críticas e desrespeito aqueles que evoluíram para o trato amoroso, respeitoso e certo com os pequenos!

Por favor, “quem tem ouvidos, ouça”!

É tempo de reconstruir nossos modos com as crianças!

É tempo de reconhecermos naqueles que educam seus filhos com respeito, dedicação, responsabilidade e afeto a postura do CERTO. É assim: é certo. Só tudo isso!

E não cabe a ideia de que “no meu tempo…”, “eu não fui criado assim…” “se fosse filho meu…”, “é psicologia barata”! Não cabe, pois o mundo evoluiu! A ciência evoluiu e comprovou! A educação percebeu e entendeu! A Neurociência, a Psicologia, a Psicopedagogia explicam, provam e indicam educação não violenta como caminho adequado para uma boa formação do ser biopsicossocial. Goste ou não, essa é a única verdade que temos pra hoje. E o “seu tempo” é o agora! E é tempo de aprender. Nosso cérebro, baseado na condição da plasticidade – uma das descobertas da neurociência – aprende ao longo de toda a vida! Assim, mães, pais, avós queridos, pediatras, coordenadores, diretores, professores, terapeutas, tias, tios, irmãos, babás, cuidadores dos berçários, MUNDO: é tempo de reestruturar nosso olhar, nossa postura e nossa responsabilidade com nossas crianças.

O menino mimado talvez seja o filho amado que precisa ser entendido como filho cuidado. A família zelosa que talvez seja vista como permissiva e obcecada seja só a família envolvida do tanto que se precisa ser para fazer aquele tal “certo”.

Precisamos “desconfigurar o sistema” e nos reorganizarmos para os tempos atuais, conhecimentos atuais, vida atual, sociedade atual, filho atual. E, na atualidade, sejamos seguidores da verdade. A verdade diz que filho que foi criado na pancada, na restrição, na relação de medo com os pais, no autoritarismo, na brutalidade, na pressão, na violência, não se torna um adulto equilibrado e tranquilo e eficiente para si e suas vontades e para o trato e atuação com o mundo de forma generosa e efetiva. Temos gerações e gerações para provar isso, afinal, esse foi o modelo de tantos anos passados e atuais e ainda não vimos um povo tão incrível resultante desse formato de educação violenta. Não há como convencer. Ponto.

E aqui vem nosso chicote nas costas de todo dia. Muitos entendem, é conveniente a eles para validarem suas críticas, que pais amorosos são pais que não alcançam respeito, que não tem autoridade, que não estabelecem hierarquia positiva, que não estabelecem limites, responsabilidade, afazeres, que tem medo dos filhos, que não querem enfrentamento, que são incapazes de se impor, são incompetentes em mostrar que são as autoridades, criam filhos egoístas e por aí vai a lista dos “crimes”.

Educar na positividade, amor e equilíbrio tem a ver com orientar em vez de impor; respeitar em vez de gritar e bater; esperar em vez de exigir; tem a ver com perceber singularidades em vez de impor padrões; ter paciência em vez de agredir; criar estratégias em vez de ignorar; enfrentar em vez de abandonar; conectar-se em vez de estar no alto do pedestal dos ditadores; tem a ver com estar tão junto que é permitido individualidade; tem a ver com ver a mesma coisa e enxergar mundos diversos e isso não magoar ninguém, tem a ver com ser tão respeitoso que é impossível de não se ser respeitado.

Sei que quem quer entender, entenderá e quem não quer, terá de caminhar um pouco mais no “vale de lágrimas” pra entender de fato, do que se trata respeitar uma criança e o que isso pode trazer de benefícios para si, para a criança e para o mundo.

Quem educa no respeito vai entender a diferença do menino mimado e do menino cuidado. E quererá decididamente, ter o filho cuidado mesmo que para muitos exista ali o menino mimado.

Afinal, para quem já assumiu a tarefa de educar com amor, não tem a ver com ter razão, tem a ver com amar e se responsabilizar.

 

MARIZA DOMINGUES

 

 

 

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2 Comentários

  1. Como tenho admiração por essa professora, os anos passam e minha admiração só aumenta… Você e essêncial nesse mundo ❤️ Parabéns pelo blog e por continuar sendo essa pessoa incrível e de um coração enorme. Eu posso falar com muito orgulho, uma das melhores professoras que tive na minha vida.

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Sobre o(a) autor(a)
Mariza Domingues

Mariza Domingues

Mariza Domingues é mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!
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