15 de junho de 2020

Autismo e Tratamento no Brasil: uma questão de capacitação e conscientização

por Sandra Paro

Segundo o CDC (Centro de Controle de Doenças), 1 para cada 68 crianças nos EUA (Estados Unidos) está no espectro do autismo. No Brasil as informações ainda são vagas, mas segundo dados publicados na revista “Espaço Aberto”, da USP, estima-se que há mais de 2 milhões de autistas. O artigo “Um Retrato do Autismo no Brasil”, revela ainda que os pacientes têm dificuldade em obter diagnóstico precoce e tratamento.

Como tratamento mais seguro para o autismo, segundo Martha Hubner, professora do Instituto de Psicologia da USP, temos a Terapia Comportamental: “é o único tratamento baseado em evidência científica”. A pesquisadora explica que nos Estados Unidos, um paciente diagnosticado com autismo só pode ser tratado com Terapia Comportamental.

Dois pontos importantes a serem desenvolvidos no Brasil são a capacitação e a conscientização. A capacitação de profissionais ABA para atuar no tratamento e a conscientização em âmbitos públicos para que esse tratamento seja estendido às APAES e outros, além de escolas regulares.

No Brasil isso ainda não acontece e faltam profissionais capacitados em terapia comportamental para dar conta da demanda. De acordo com a Psicóloga Comportamental, Leana Bernardes, Coordenadora do curso de Pós-graduação do IGAC (Instituto Goiano de Análise do Comportamento), para ser um profissional ABA é necessário, no Brasil que o profissional faça, no mínimo, uma especialização em ABA ou ainda, tenha mestrado ou doutorado em Análise do Comportamento. E lembra que é importante que estes profissionais procurem ser supervisionados constantemente por profissionais mais experientes e qualificados.

O tratamento para indivíduos no TEA (Transtorno do Espectro Autista) requer equipe multiprofissional (fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo comportamental) e treino parental.

A Psicóloga comportamental e supervisora ABA, Leana Bernardes esclarece que “muitas crianças com TEA têm dificuldade em seus ambientes domésticos durante as rotinas e atividades diárias, portanto, é importante que os pais adquiram habilidades e práticas que possam implementar com os filhos ao longo dessas rotinas e atividades, por isso a importância do treino parental”.

Sabemos que em ABA toda capacitação é bem-vinda e o treinamento é necessário, desse modo, Leana, que coordena cursos de capacitação, explica mais sobre o treino parental: “A intervenção implementada pelos pais (Parent Implement Intervention) é um treino parental com base em evidências científicas. Esse treino envolve modelagem, treinamento e colaboração com os pais por parte do profissional da ABA, no processo de treinamento dos pais para implementar práticas baseadas em evidências ao longo de rotinas e atividades diárias. Os pais são os principais implementadores da intervenção, no entanto, os profissionais da ABA desempenham um papel crucial como treinadores, incentivadores e provedores de informações”.

Quando pensamos em autismo, o espectro é amplo, mas sempre indicamos a intervenção precoce e Bernardes aponta que, “Esse tipo de treino parental tem sido eficaz com crianças em intervenção precoce (0-2 anos) e para crianças do ensino fundamental (6-11 anos). A intervenção implementada pelos pais pode ser usada efetivamente para abordar: habilidade social, comunicação, atenção conjunta, comportamento, prontidão escolar, brincadeira, resultados cognitivos, adaptativos e acadêmicos”.

A participação dos pais no tratamento comportamental pode ajudar os mesmos a compreender melhor as dificuldades da criança e com isso adotar posturas mais eficazes.

Uma das principais considerações sobre o autismo é que o grupo é heterogêneo, indivíduos com autismo são muito diferentes entre eles, a unicidade também deve ser entendida e explorada no tratamento.

Indivíduos no TEA podem ter diferentes graus de comprometimento: leve, moderado e severo, além de considerar que, segundo a coordenadora do PROTEA (Programa de Transtornos do Espectro Autista), Dra. Joana Portolese, 40% apresentam deficiência intelectual; 20 a 30% desses indivíduos são não-verbais; 20 a 25% apresentam retrocesso na linguagem; 35% têm epilepsia; 15% com síndromes genéticas; 30% com TDAH; 2% a 30% com depressão; 2 a 45% com ansiedade, além de transtornos do sono e TOD (Transtorno Opositor Desafiador). Observamos uma sobreposição de condições, ou também chamadas de comorbidades, que nos atentam para a existência de um ser muito individual dentro desse volume de condições que podem acompanhar o espectro do autismo.

A principal vantagem do tratamento comportamental é oferecer qualidade de vida e autonomia para o indivíduo autista, já que o autismo é uma condição permanente, ele deve desenvolver-se para ser capaz e não necessitar de apoio de um responsável ao longo da vida.
Por esses e outros motivos aqui listados, o Brasil deve se preocupar em criar leis, políticas públicas, capacitar profissionais e pais para lidar com o tratamento adequado e assim, construir uma sociedade que ajude as famílias dos indivíduos no TEA.

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Sobre o(a) autor(a)
Sandra Paro

Sandra Paro

Sandra Paro é mãe, professora, estudiosa, idealizadora da ABA+, analista do comportamento, consultora de recursos terapêuticos, corajosa, disciplinada e ensaísta para o ABA+
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