27 de abril de 2021

Acomodando os enferrujados sociais

Ouvi Christian Dunker, psicanalista famoso a quem admiro, dizer há alguns dias, numa palestra sobre educação em tempos de pandemia, que temos de nos preparar, pois teremos de nos REINICIAR. E fiquei cá com as teorias, experiências, ignorâncias, possibilidades pensando em como faremos isso. Como? Como reiniciar num mundo transformado, novo, diferente, renovado, alterado, talvez até ainda mais desgovernado. O que fazer no pós-pandemia e qual botão ligar para reiniciar. Será que já existe programação pronta para tal comando?

Longe de pensar em ter a resposta, o pensar sobre o tema traz algumas considerações que podem colaborar para que cada qual se reorganize, se reconecte, se realinhe… e nada de se reinventar! Reinventar não, pois se fizer isso, nega-se tudo que você já é. E todos já somos, já existimos, já nos inventamos e algumas marcas não são possíveis de apagar: a vida, as experiências, vivências, escolhas passadas e suas consequências, vontades realizadas, tratos feitos ou desfeitos… já existimos, estamos inventados há tempos e reinventar parece apagar tudo que somos. Não se iluda! Impossível! Melhor buscar uma reformulação a partir da grande invenção que é você, que é cada um de nós.

Seremos e somos carregados ou carregamos o que somos…
Piaget com sua epistemologia convergente, que reconhece o ser humano – na construção do aprendizado – como um ser biológico, emocional e social, trata de inteligência a partir de situações muito interessantes e válidas: assimilação, acomodação, adaptação e equilibração. O indivíduo que apreende uma situação e só, isso não é aprendizado. Para que o aprendizado se consolide é necessário adaptação que nada mais é – num olhar bem simplificado – do que conseguir usar o que aprendeu na vida prática nos enfrentamentos dos desafios cotidianos. E a equilibração que é todo o processo que o indivíduo faz quando se depara com uma situação-problema nova e, assim se desequilibra, mas para, assimila a situação, acomoda-a dentro de experiências anteriores e transforma a situação de forma que que consiga se adaptar e resolvê-la. E resolvê-la é vivê-la. Afinal, a vida traz a cada segundo novas situações a serem ressignificadas. E será sempre assim.

Tudo isso para lembrar que diante da nossa situação-problema: viver no mundo pós-pandemia estamos exatamente no meio do processo de desequilíbrio, necessidade de assimilação e adaptação e criação de um novo momento de equilibração.

O cenário é esse: o desequilíbrio (situação-problema) já temos, a assimilação estamos fazendo, processando ou, pelo menos, precisamos fazer, e a adaptação é necessária, quase obrigatória (e é, àqueles que querem permanecer caminhando, seguindo e não paralisados num tempo em que a pouco será o passado remoto dos dias cruéis e assustadores). O reiniciar vai ter que se dar por esse caminho: o da aprendizagem. E a aprendizagem real é essa: a da vida prática caracterizada pela nossa capacidade de adaptação, interação, criatividade, de perceber a si e os outros em seus sentimentos, de reconhecer o valor da ciência com suas hipóteses e comprovações, perceber o mundo natural ao nosso redor, coordenar de forma equilibrada corpo e mente, conseguir se expressar de forma clara, conseguir perceber-se como parte desse mundo, mas não como o mais importante e insignificante se sozinho…

A pergunta de que tipo de gente vai sair de casa quando a pandemia acabar é inevitável. Que tipo de professor vai voltar para a sala de aula? Que tipo de aluno vai voltar para a escola? Que tipo de pais deixarão seus filhos na porta das escolas? Que tipo de terapeuta atenderá as crianças e seus comportamentos atípicos? Que tipo de crianças encontraremos pelos parques? Que tipo de avós se reencontrarão com o mundo? Que tipo de consumidor estará liberto aos shoppings? Que tipo de tanta coisa teremos que nos confrontar e assimilar e acomodar e adaptar-nos? Seremos um bando de enferrujados socias!
Mas seremos os enferrujados sociais que, no desequilíbrio deixamos que o cérebro se desafiasse a aprender.

E, assim, nunca tive tanta certeza de que inteligência não é quantidade, e sim qualidade! De que a inteligência será nossa salvação! O aprender vai ser o lubrificante para nossas ferrugens sociais!

O ser inteligente há de perceber que não dá para passar por tamanha tragédia sem que nada aconteça no nosso coração, no nosso olhar para o outro e para o mundo, no nosso senso de responsabilidade coletiva, no nosso reconhecer e acolher das emoções nossas e dos outros. Não dá para passar por tudo isso sem que nossa memória registre tamanha tristeza e não manipule as informações projetando ações para o presente e futuro que mudem o foco das demandas quantitativas para demandas de amor, solidariedade, de reconhecimento, de união, de compromisso consigo e com o outro. É impossível passar por tudo isso sem inibir, filtrar pensamentos e atitudes que nos colocam no foco egoísta do mundo das vaidades e ostentações de um ter infinitamente menor que o ser.
Muitos não conseguirão! Posso ouvi-los! Triste! É verdade!

Mas e você? Pode? Quer? Não promovo um movimento egoísta ao convidá-lo a se desequilibrar, assimilar, acomodar e reequilibrar. Só penso que esse processo é particular, único, singular e individual. Cada um fará do seu jeitinho. Afinal, a aprendizagem é um processo individual e específico de cada criatura. Mas de cada um que se move a aprender e se acomoda – no sentido de harmonizar – podemos percebê-lo como exemplo, como alguém que vai voltar para o mundo pós-pandemia, vai abrir a porta e sair ofertando a ressignificação de um mundo reformulado a partir da inteligência. Não a inteligência como mero processo cerebral – conceito que nem sei como um dia aconteceu – mas a inteligência da neuroplasticidade de um indivíduo que foi capaz de adaptar-se ao meio e suas influências e ainda tirar proveito delas construindo um olhar e uma postura muito mais humana, coerente, amorosa e coletiva.
Não há ferrugem que resista a um ser humano com vontade de viver!

Mariza Domingues
Mãe e professora de nascença!
Em abril de 2021

ABA+ Inteligência Afetiva
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Sobre o(a) autor(a)
Mariza Domingues

Mariza Domingues

Mariza Domingues é mulher, filha, mãe, professora empenhada na proposta educacional contemporânea, educadora LIV, Psicopedadoga em formação, uma pessoa incrível e ensaísta para o ABA+ ! É muita inteligência Afetiva!
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